quinta-feira, 8 de novembro de 2012

[OPINIÃO] Estratégias Políticas e Direitos LGBTs: de Obama a Serra

Barack Obama foi reeleito presidente dos Estados Unidos. Ele é uma figura emblemática e tornou-se o primeiro presidente dos EUA a apoiar publicamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas há evidências de que sua afirmação a respeito foi um ato político calculado.

A declaração foi dada um dia depois da publicação de uma pesquisa que afirma que metade da população americana apoia a causa. Foi dita, também, no mesmo dia em que aumentava a adesão nas redes sociais a uma campanha que tenta revogar a lei que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo no estado da Carolina do Norte e um dia antes de uma reportagem do jornal Washington Post divulgar que o seu rival, Mitt Romney, praticava bullying contra colegas homossexuais na adolescência.

Quando foi eleito, em 2008, Obama ostentava a imagem de representar as minorias americanas, que viam nele um presidente revolucionário capaz de atender a todas as suas causas. Mas conforme seu mandato se aproximava do fim, ele foi sendo acusado de se inclinar para o centro e perder a coragem para enfrentar a oposição no Congresso.

Assim, declarar-se favorável aos direitos LGBTs pode ter sido uma forma de fazer as pazes com parte dos eleitores com ele frustrados e recuperar um apoio político importante.

Enquanto isso, aqui no Brasil, ocorreu um episódio com consequências diversas na disputa pela prefeitura de São Paulo. O candidato José Serra atacou o seu rival Fernando Haddad, criticando dura e injustamente o kit anti-homofobia, criado enquanto Haddad era ministro da Educação. Mas Serra acabou envolto em notícias sobre um kit semelhante (“Guia sobre preconceito e discriminação na escola”) criado em 2009, durante sua própria gestão no governo do estado de São Paulo. O material foi distribuído aos professores do estado e era bem semelhante ao kit do MEC.

Em suas críticas, Serra afirmou que o material do governo federal tinha “aspectos ridículos e impróprios para passar para crianças pequenas”, a despeito do público-alvo do kit ser os professores do Ensino Médio de 6.000 escolas em todo o Brasil ao invés dos estudantes. Também afirmou que o material fazia “apologia do bissexualismo [sic]” e tentava “doutrinar, em vez de educar”. Toda essa polêmica foi bastante negativa à candidatura de Serra, que acabou perdendo as eleições para Haddad.

Na comparação dos dois casos políticos (o americano e o brasileiro), fica claro que os direitos LGBTs, antes de serem tratados como uma causa apartidária relacionada aos direitos humanos, vêm sendo usados como estratégia política às custas da violência e da subcidadania de toda uma população historicamente oprimida. Porém o mundo começa a rejeitar a hipocrisia de certos candidatos e exige, urgentemente, uma postura política firme, justa e mais humana.

Postado por: Raphael Vieira - Professor e Militante do Cellos-MG

2 comentários:

  1. Caro Raphael,

    Muito pertinente seu texto, mas como eu sempre gosto de frisar, melhor um oportunismo positivo, que gera um resultado também positivo, do que a um negativo.

    Quando se refere ao caso de Obama poder estar
    a usar um discurso de reaproximação com a Esquerda estadunidense, não poderia de deixar de pensar também na nossa presidenta Dilma.

    Neste caso, ela nem parece se aproximar do centro, como você se referiu ao final do mandato de Obama, isso há muito tempo ela é. Dilma parece estar muito mais para a Direita mesmo. Aliás, não somente ela, mas quase todo o PT. Quando digo quase todo o PT estou me referindo aos militantes e membros do partido, que possuem perfis diversos. Como posicionamento institucional e político o PT deixou, há muito tempo, de ser esquerda.

    Assim, se a onda pegasse aqui seria ótimo, mas não é o que parece que vai acontecer. A cada dia Dilma e PT se comprometem mais com as forças de Direita do país, seja políticos que trabalham para os interesses das religiões que representam, seja com políticos corruptos como Renan Calheiros, ou com empresários e grandes latifundiários.

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  2. Mateus,

    a minha intenção ao escrever este artigo é demonstrar o que digo no final do texto: "os direitos LGBTs, antes de serem tratados como uma causa apartidária relacionada aos direitos humanos, vêm sendo usados como estratégia política às custas da violência e da subcidadania de toda uma população historicamente oprimida. Porém o mundo começa a rejeitar a hipocrisia de certos candidatos e exige, urgentemente, uma postura política firme, justa e mais humana."

    Acredito que, independente da orientação política do partidos e de seus integrantes, membros da direita, da esquerda e do centro DEVEM respeitar os direitos humanos e fazer de tudo para garantir seu cumprimento, ao invés de usar disso para manipular o eleitorado.

    Assim, apesar de concordar com o que você afirma, prefiro não entrar nesse viés analítico e deixar uma mensagem prática que sirva para a situação presente e também para um futuro ainda desconhecido.

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